sábado, 2 de outubro de 2021

Ar-condicionado sustentável

 

Numa Era de temperaturas cada vez mais elevadas, criar espaços com mais verdes em casa, além de trazer mais beleza, conforto e alegria aos ambientes, é a melhor solução para amenizar o calor, melhorar a qualidade do ar e ainda aliviar o bolso.  Por Vanessa Olivier



Em 2014, nós nos deparamos com um recorde muito significativo, mas que costumamos dar pouca importância: o aumento da temperatura média da Terra – um salto de 1,02°C desde o século XIX, segundo dados da Nasa e Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos EUA (Noaa). É a primeira vez que o planeta atingiu um aumento dessa magnitude, rompendo o marco de 1°C. Diante desse resultado, não foi difícil imaginar que 2015 também bateria outro recorde, roubando de 2014 o posto de ano mais quente já registrado na história, com 0,16° C a mais.  

Mas o pior é que esse recorde tende a ser superado, segundo Met Office, Instituto de Meteorologia do Reino Unido. A previsão é de que, neste ano, os termômetros marquem 1,14 graus acima do que foi registrado na época da Revolução Industrial. Ou seja, se prepare para enfrentar cada vez mais calor. E a melhor forma de fazer isso não está na aquisição de um bom ar-condicionado (“maravilha” tecnológica que nos mantém frescos, mas, que, por outro lado, além de deixar a conta de luz mais cara contribui para o aquecimento global por elevar o envio de poluentes à atmosfera), e sim na criação de um espaço verde (pequeno que seja) em sua própria casa ou calçada.

Segundo o biólogo Pedro Barral de Sá, responsável pelo Departamento Florestal da Atitude Verde, diversos estudos já comprovaram que a qualidade de vida de quem vive perto de áreas verdes ou tem espaços ajardinados permeáveis em casa, até mesmo plantas, é muito melhor. “Principalmente por ser uma quebra no padrão de impermeabilidade das grandes cidades e por regularem o clima dentro de casa”, destaca.

 Um estudo desenvolvido pela Universidade de São Paulo (Usp) na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), em Piracicaba, revelou que em áreas com poucas árvores, a temperatura pode ser até 3°C maior do que em locais arborizados. Os pesquisadores compararam as temperaturas registradas na região central da cidade, com apenas 10% de vegetação, e no campus da instituição, que tem 54% de área verde. Eles também descobriram uma variação de 55°C a 67°C no asfalto e, nas copas das árvores, arbustos e gramados, 29°C e 36°C.

Na capital paulista, a variação de temperatura entre algumas regiões é bem gritante. Um estudo feio pelo departamento de Planejamento Territorial e Geoprocessamento da Unesp descobriu o que o gradiente de calor (diferença de temperatura entre áreas) aumentou nos últimos anos. Na região da Serra da Cantareira, por exemplo, os termômetros acusam, em média, 18°C. Na Sé, 33°C.

E é fácil perceber essa variação térmica, basta uma caminhada por bairros arborizados e por regiões tomadas pelo concreto para sentir a diferença. A explicação, aponta o advogado e consultor ambiental Alessandro Azzoni, está no processo de evapotranspiração – liberação de vapor de água pelo solo e pela transpiração das plantas. “De manhã, ao andarmos por um local gramado, percebemos que ele está úmido, o que não acontece com as áreas cimentadas, que absorvem todo o calor e fazem com que o efeito térmico aumente”, explica e cita outro exemplo interessante: “Uma temperatura de 30° C pode chegar à sensação térmica de 33°C, que equivale à soma do calor ambiente, mais o calor que é absorvido pelo cimento. Isso explica as ilhas de calor que ocorrem em cidades com grandes áreas cimentadas e asfaltadas”.


 Heroínas do ar

Por mais simples que possa parecer, plantar árvores foi a solução encontrada por um grupo de cientistas da Universidade de Oxford, na Inglaterra, para ajudar na redução dos impactos das mudanças climáticas no planeta. Segundo eles, as tecnologias mais promissoras até 2050 se resumem ao plantio de árvore em áreas não arborizadas e a melhora do solo por meio do uso de uma camada de carvão vegetal. É claro que apenas essas atitudes não podem combater o efeito estufa, mas também não há como negar que elas têm um papel vital para controlar a qualidade do nosso ar.

Alessandro lembra que além da evapotranspiração há outro fenômeno de suma importância, que é a respiração das árvores por meio da fotossíntese. “Durante esse processo, elas removem o dióxido de carbono do ar suavizando a emissão de gases que potencializam o efeito estufa, e como essas áreas que possuem árvores têm uma temperatura mais agradável, o consumo de energia por uso de climatizadores e ar condicionado também diminui”. E pasme: a diferença de temperatura entre uma área arborizada e outra cimentada pode variar até 14°C, conta o consultor ambiental.

Portanto, não se prive do benefício de ter um jardim em casa ou até mesmo plantas. Na hora de montar o seu espaço verde, a dica é apenas optar por espécies que você consiga cuidar de forma adequada, recomenda o biólogo Pedro Barral de Sá. “Devemos fazer o possível para incorporar áreas verdes ao nosso lar e em nosso dia a dia. Imagine mil pequenos jardins de dois metros quadrados. Na soma, teremos dois mil metros quadrados de área verde e assim por diante”, comenta Alessandro e sugere: “Por isso, faça mais jardins”.


 Mais verde, mais chuva!

Você já pensou que aquela linda árvore que você plantou na frente da sua casa pode ter alguma relação com a chuva? Em uma análise mais rudimentar, as árvores transferem a umidade do solo para a atmosfera, que ajuda a baixar as partículas poluentes, e a formar nuvens, logo um clima mais propício para um aguaceiro, certo? Para o biólogo Pedro Barral de Sá, responsável pelo Departamento Florestal da Atitude Verde, não se pode tirar conclusões precipitadas. Ele adianta que ainda não há indícios fortes de que a arborização urbana viária (em ruas e avenidas) tenha alguma influência no ciclo de chuva de uma grande cidade, além do fato já constatado de que as áreas arborizadas e permeáveis ajudam a combater enchentes, por exemplo.

No entanto, ao contrário de Pedro, o advogado e consultor ambiental Alessandro Azzoni acredita que sim. Para ilustrar sua aposta, ele cita como exemplo a capital paulista e seu cinturão verde, que permeia regiões como Itapecerica da Serra, Cotia, Embu etc, garantindo uma temperatura refrigerada à cidade. “Segundo o Ministério Público Paulista, se esse cinturão fosse suprimido, a cidade poderia aquecer em até 4 C. Isso demonstra que o ciclo das chuvas está diretamente relacionado à qualidade de vida das cidades e com os fenômenos de evapotranspiração e evaporação das águas. Se não tivermos áreas verdes em grande escala, a evapotranspiração seria nula e a concentração de precipitações também”.  


 Cobertos de vida

Fazer seu telhado respirar, literalmente, pode ser uma solução incrível para deixar a temperatura do seu lar mais confortável. Os paisagistas Uilame Miranda Medeiros e Iris Miranda Boulos, da Iris Green Garden, garantem que é possível reduzir a temperatura dentro de casa em até 50%, dependendo do material utilizado nas paredes. Se você se interessou, atente-se às dicas dos profissionais para criar seu próprio telhado verde:

 

·   Antes de tudo é preciso saber se o telhado resiste, em média, 150 quilos por metro quadrado. A base do jardim é outro detalhe muito importante, pois se for telha, precisa ser muito bem colocada, com uma estrutura que resista ao peso. Se for laje, tem que ter um bom caimento para que a água não se acumule, o que pode apodrecer as raízes e ser um chamariz para o mosquito Aedes Aegypti.


·         Para evitar infiltrações, o modo mais prático é utilizar uma lona vinílica de 8mm, sem emendas, em toda a área. Sobre ela, estenda uma camada de manta geotêxtil, mais conhecida como Bidim, que vai filtrar a água.


·         Em cima dessa manta, coloque uma camada de cerca de 2cm de areia grossa.


·     Em seguida, vem o substrato. Não use terra porque ela é compacta e não ajuda no desenvolvimento das raízes das plantas, independente de qual for, seja grama ou forração. O recomendado é o substrato com 60% de material orgânico para auxiliar as plantas a se desenvolverem.


·      Cada metro quadrado requer 1 saco de argila expandida de 50 litros, 1m² de manta Bidim, 20 quilos de areia grossa e 80 quilos de substrato.


·         Para escolher as espécies é necessário considerar a insolação e a manutenção (regas e podas periódicas). As mais indicadas e resistentes para ambientes de pleno sol e sem pisoteios são: Grama Amendoim, Wedelia e grama São Carlos.


·         Para ambientes mais sombreados, as plantas ideais são: Grama preta comum, Singônio e Heras Rasteiras. Todas são espécies rasteiras que melhor se adaptam em solos de pouca profundidade.


·         Por ter um espaço mínimo de terra, a irrigação precisa ser feita dia sim, dia não. Se o sol sob o jardim for muito extenso, é necessário molhar todos os dias. Manutenções como limpeza, podas e controle de pragas podem ser feitas mensal ou bimestral.


·    Para que um telhado verde atinja seu nível máximo de exuberância, mesmo sendo espécies adultas, pode levar de 30 a 90 dias, dependendo dos cuidados e nutrientes adquiridos na implantação.


·      O custo estimado, para cada metro quadrado de materiais, é de 250 a 350 reais (sem contar a impermeabilização).

 

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