Numa Era de temperaturas cada vez mais elevadas, criar espaços com mais verdes em casa, além de trazer mais beleza, conforto e alegria aos ambientes, é a melhor solução para amenizar o calor, melhorar a qualidade do ar e ainda aliviar o bolso. Por Vanessa Olivier
Mas o pior é que esse recorde tende a ser superado,
segundo Met Office, Instituto de Meteorologia do Reino Unido. A previsão é de
que, neste ano, os termômetros marquem 1,14 graus acima do que foi registrado
na época da Revolução Industrial. Ou seja, se prepare para enfrentar cada vez
mais calor. E a melhor forma de fazer isso não está na aquisição de um bom ar-condicionado
(“maravilha” tecnológica que nos mantém frescos, mas, que, por outro lado, além
de deixar a conta de luz mais cara contribui para o aquecimento global por
elevar o envio de poluentes à atmosfera), e sim na criação de um espaço verde (pequeno
que seja) em sua própria casa ou calçada.
Segundo o biólogo Pedro Barral de Sá, responsável
pelo Departamento Florestal da Atitude Verde, diversos estudos já comprovaram
que a qualidade de vida de quem vive perto de áreas verdes ou tem espaços
ajardinados permeáveis em casa, até mesmo plantas, é muito melhor. “Principalmente
por ser uma quebra no padrão de impermeabilidade das grandes cidades e por
regularem o clima dentro de casa”, destaca.
Um estudo
desenvolvido pela Universidade de São Paulo (Usp) na Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), em Piracicaba, revelou que em áreas com
poucas árvores, a temperatura pode ser até 3°C maior do que em locais arborizados. Os
pesquisadores compararam as temperaturas registradas na região central da
cidade, com apenas 10% de vegetação, e no campus da instituição, que tem 54% de
área verde. Eles também descobriram uma variação de 55°C a 67°C no asfalto e, nas copas das árvores, arbustos e
gramados, 29°C
e 36°C.
Na capital paulista, a variação de temperatura entre algumas regiões é
bem gritante. Um estudo feio pelo departamento de Planejamento Territorial e
Geoprocessamento da Unesp descobriu o que o gradiente de calor (diferença de
temperatura entre áreas) aumentou nos últimos anos. Na região da Serra da
Cantareira, por exemplo, os termômetros acusam, em média, 18°C. Na Sé, 33°C.
E é fácil perceber essa variação térmica, basta uma
caminhada por bairros arborizados e por regiões tomadas pelo concreto para
sentir a diferença. A explicação, aponta o advogado e consultor ambiental
Alessandro Azzoni, está no processo de evapotranspiração – liberação de vapor
de água pelo solo e pela transpiração das plantas. “De manhã, ao andarmos por
um local gramado, percebemos que ele está úmido, o que não acontece com as
áreas cimentadas, que absorvem todo o calor e fazem com que o efeito térmico
aumente”, explica e cita outro exemplo interessante: “Uma temperatura de 30° C pode chegar à sensação térmica de 33°C, que equivale à soma do calor
ambiente, mais o calor que é absorvido pelo cimento. Isso explica as ilhas de
calor que ocorrem em cidades com grandes áreas cimentadas e asfaltadas”.
Heroínas do ar
Por mais simples que possa parecer, plantar árvores
foi a solução encontrada por um grupo de cientistas da Universidade de Oxford,
na Inglaterra, para ajudar na redução dos impactos das mudanças climáticas no
planeta. Segundo eles, as tecnologias mais promissoras até 2050 se resumem ao
plantio de árvore em áreas não arborizadas e a melhora do solo por meio do uso
de uma camada de carvão vegetal. É claro que apenas essas atitudes não podem combater
o efeito estufa, mas também não há como negar que elas têm um papel vital para
controlar a qualidade do nosso ar.
Alessandro lembra que além da evapotranspiração há
outro fenômeno de suma importância, que é a respiração das árvores por meio da
fotossíntese. “Durante esse processo, elas removem o dióxido de carbono do ar
suavizando a emissão de gases que potencializam o efeito estufa, e como essas
áreas que possuem árvores têm uma temperatura mais agradável, o consumo de
energia por uso de climatizadores e ar condicionado também diminui”. E pasme: a
diferença de temperatura entre uma área arborizada e outra cimentada pode
variar até 14°C,
conta o consultor ambiental.
Portanto, não se prive do benefício de ter um
jardim em casa ou até mesmo plantas. Na hora de montar o seu espaço verde, a
dica é apenas optar por espécies que você consiga cuidar de forma adequada,
recomenda o biólogo Pedro Barral de Sá. “Devemos fazer o possível para
incorporar áreas verdes ao nosso lar e em nosso dia a dia. Imagine mil pequenos
jardins de dois metros quadrados. Na soma, teremos dois mil metros quadrados de
área verde e assim por diante”, comenta Alessandro e sugere: “Por isso, faça
mais jardins”.
Mais verde, mais
chuva!
Você já pensou que aquela linda árvore que você
plantou na frente da sua casa pode ter alguma relação com a chuva? Em uma
análise mais rudimentar, as árvores transferem a umidade do solo para a
atmosfera, que ajuda a baixar as partículas poluentes, e a formar nuvens, logo
um clima mais propício para um aguaceiro, certo? Para o biólogo Pedro Barral de
Sá, responsável pelo Departamento Florestal da Atitude Verde, não se pode tirar
conclusões precipitadas. Ele adianta que ainda não há indícios fortes de que a
arborização urbana viária (em ruas e avenidas) tenha alguma influência no ciclo
de chuva de uma grande cidade, além do fato já constatado de que as áreas
arborizadas e permeáveis ajudam a combater enchentes, por exemplo.
No entanto, ao contrário de Pedro, o advogado e consultor
ambiental Alessandro Azzoni acredita que sim. Para ilustrar sua aposta, ele
cita como exemplo a capital paulista e seu cinturão verde, que permeia regiões
como Itapecerica da Serra, Cotia, Embu etc, garantindo uma temperatura
refrigerada à cidade. “Segundo o Ministério Público Paulista, se esse cinturão
fosse suprimido, a cidade poderia aquecer em até 4 C. Isso demonstra que o
ciclo das chuvas está diretamente relacionado à qualidade de vida das cidades e
com os fenômenos de evapotranspiração e evaporação das águas. Se não tivermos
áreas verdes em grande escala, a evapotranspiração seria nula e a concentração
de precipitações também”.
Cobertos de vida
Fazer seu telhado respirar, literalmente, pode ser
uma solução incrível para deixar a temperatura do seu lar mais confortável. Os
paisagistas Uilame Miranda Medeiros e Iris Miranda Boulos, da Iris Green
Garden, garantem que é possível reduzir a temperatura dentro de casa em até
50%, dependendo do material utilizado nas paredes. Se você se interessou,
atente-se às dicas dos profissionais para criar seu próprio telhado verde:
· Antes
de tudo é preciso saber se o telhado resiste, em média, 150 quilos por metro
quadrado. A base do jardim é outro detalhe muito importante, pois se for telha,
precisa ser muito bem colocada, com uma estrutura que resista ao peso. Se for
laje, tem que ter um bom caimento para que a água não se acumule, o que pode apodrecer
as raízes e
ser um chamariz para o mosquito Aedes Aegypti.
·
Para
evitar infiltrações, o modo mais prático é utilizar uma lona vinílica de 8mm,
sem emendas, em toda a área. Sobre ela, estenda uma camada de manta geotêxtil,
mais conhecida como Bidim, que vai filtrar a água.
·
Em
cima dessa manta, coloque uma camada de cerca de 2cm de areia grossa.
· Em seguida, vem o substrato. Não use terra porque ela é compacta e não ajuda no desenvolvimento das raízes das plantas, independente de qual for, seja grama ou forração. O recomendado é o substrato com 60% de material orgânico para auxiliar as plantas a se desenvolverem.
· Cada
metro quadrado requer 1 saco de argila expandida de 50 litros, 1m² de manta
Bidim, 20 quilos de areia grossa e 80 quilos de substrato.
·
Para
escolher as espécies é necessário considerar a insolação e a manutenção (regas
e podas periódicas). As mais indicadas e resistentes para ambientes de pleno
sol e sem pisoteios são: Grama Amendoim, Wedelia e grama São Carlos.
·
Para
ambientes mais sombreados, as plantas ideais são: Grama preta comum, Singônio e
Heras Rasteiras. Todas são espécies rasteiras que melhor se adaptam em solos de
pouca profundidade.
·
Por
ter um espaço mínimo de terra, a irrigação precisa ser feita dia sim, dia não.
Se o sol sob o jardim for muito extenso, é necessário molhar todos os dias.
Manutenções como limpeza, podas e controle de pragas podem ser feitas mensal ou
bimestral.
· Para
que um telhado verde atinja seu nível máximo de exuberância, mesmo sendo
espécies adultas, pode levar de 30 a 90 dias, dependendo dos cuidados e
nutrientes adquiridos na implantação.
· O
custo estimado, para cada metro quadrado de materiais, é de 250 a 350 reais
(sem contar a impermeabilização).
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