POESIAS ROMÂNTICAS

Tudo .... basta


Os ruídos parecem distantes
Longe demais para ouvir
Em volta, logo à frente, ao lado
Em baixo, em cima,
Mas longe...
A tristeza já morreu, agonizou,
Mesmo estando ali,
Num canto do coração
A dor latejando, ferindo
Mas inócua ....
O vento corre, assopra, grita
Gela o sangue, arranca arrepios
E parece quente,
Mesmo a envolver o corpo trêmulo
Mas cálido ...
As horas dormem
Mesmo o tempo estando em pé
Apressado para a hora do crepúsculo
Mudando paisagens
Esbranquiçando cabelos,
Enrugando sorrisos, 
Mas congelado ...
Os ruídos se espalham
A tristeza finca as garras
O frio eriça cabelos
O tempo não para
No entanto tudo é longe
Tudo é paz, calor, repouso
Tudo não existe
E o que existe é tudo
Só o amor basta ....

Por Vanessa Olivier




Ausência


Um vazio no céu refletiu meu olhar
Não estava você
Nenhuma constelação,
Nem Vênus, nem Marte
Só o brilho lânguido de uma lua
A derramar uma luz latente
Orvalhada de saudade
E amor

Não era solidão
Nem tristeza calada
Não havia espaço para o penar
Ausência faz tremer de um frio oculto
Comprimi sem mãos o coração
Mas não deixa lágrimas
Um sorriso apenas,
Um denso suspiro
E a certeza do amanhã
Amor álacre a saciar
Desmedida saudade.


Janelas do Amor
O amor não abre janelas
É preciso forçar a fechadura
E antes encontrar a chave
A busca é intensa
Pois não se busca o amor
Não é um prêmio, um degrau vencido
Uma viagem feita com êxito
Não se trata de um jogo
Pois os olhares flertam sozinhos
E antes que alguém pense por si
Ele já inundou as reservas do coração
O naufrágio é inevitável
E não há botes para a salvação


O amor não se escreve como as palavras
Ninguém constrói uma história real
Sem que o sentimento exista pleno
Antes rir do acaso 
Do que inventar encontros frustrados
Na vã tentativa do amor
Mas o amor não abre janelas

Não se experimenta todas as chaves
Aludindo encontrar a verdadeira
Haverá muitas desilusões
Pois o amor não se encontra nas feiras
Nas liquidações,
Não há barganhas
Ele não é o fim da linha
E ninguém pode forçar a fechadura



Fina Flor
Uma noite que cai
Lamparinas a acender 
O fogo, a água, o céu, o mar
Densidade a flutuar sem permissão
A cavalgar no coração
Passos certeiros na fina areia
O ar úmido a molhar a lua
A gotejar estrelas
Um brilho nos olhos serenos
Que alcançam o infinito sem o afã
Com o peito acalentando sonho,
Realidade, paz ....

O júbilo salta a face avermelhada
O caminho torna-se tenro 
Paisagens gritam a fina flor
A poesia sacode, a música apruma-se,
Suspiros, sorrisos, promessas,
Desejos que solfejam notas de amor
Encontros que ficam marcados
Sacramentados momentos 
Palavras, toques, lábios colados,
E a certeza de ter nos braços
Os minutos, os segundos, o céu, a terra
O mar, a lua, o infinito ....

Não há mais o infortúnio, 
Nem o frio da solidão,
Nem os sonhos mortos ao vento,
Caminho que antes era vazio,
Coração que não pulsava,
Resguardado de emoções transcendentes 
Eis agora a sorte a espiar
A abrir valas, fendas, gotas lancinantes
De regozijo, de fel 
De certezas e incertezas 
E de nada temer ...



Duelo
Não tive escolha ao beijar seus lábios
A fragilidade aterrou-me o espírito
E eu só podia ver o vento levar a areia
Cobrir meus olhos vermelhos
Margens plácidas da tempestade que brotou
Entre nós. 
Agora ficou o desalento
De minha força prostrada 
Altivez dilacerada, orgulho disperso,
Mas coração a bater em silêncio. 
Não quero tirar a venda dos olhos
O que existe é o bastante
E não posso fingir que o senso é cego
Que miragens do deserto não vão me furtar
E colocar na balança os pormenores
Vais e vens do amor.
Se eu ficar é preciso soterrar
O que dentro de mim ainda é soberano
Ainda alardeia meu espírito
Fustiga minha entrega
Chacoalha os argumentos do coração
E coloca na mira do fogo a razão
Ou senão a ufania 
Águas que apagam o nome na areia
E levam nas profundezas do oceano 
Algo que ainda respira.
A decisão revira o caos 
Borbulha o ínfimo no degredo 
Calçando o peito de dúbios passos
Mas amenizando a dor de uma adjacente perda.
Fico sem poder partir
A última esperança é o amor
E minhas mãos se agarram a essa crença
Tudo agora é longínquo
Só os beijos é que existem ...

Por Vanessa Olivier


Melancolia
Havia mais do que amor naqueles olhos
Um latejar de infindas promessas
Um crepitar de latentes desejos
Um ondular de fortuitas cobranças 
De quem dá sem o alcance indelével 
Da desmedida contribuição,
Mas de quem fervorosamente espera
A alegria inefável da correspondência
Num rogo sorriso, num suplicar de olhares
Ou mais ainda, na magia de um tocar de lábios
Insaciável beijo. 


Havia um reverberar de contemplação
Um desmedido respeito, admiração ímpar
E um marejar de puro afeto,
Mas havia também um faiscar de medo 
Um repouso de dor, de saudade, melancolia
E um calejado cansaço da espera.
De quem vive a contemplar o dia
De ter o amor descansando nos braços
Repouso eterno, sem dia para partir.

Dava ainda pra ver o vazio
De longas noites escuras
Do frio de lençóis solitários
Do derramar de lágrimas saudosas ...
E eram saudades pungentes
Do gosto do beijo 
Do toque, do abraço, do calor,
De tudo que nunca houve 
Do romance que nunca existiu.
Mas havia esperança
De um coração que não se cansa
De esperar pelo amor.


Primeiro encontro


Os olhos ainda embutidos
Pela sofreguidão demasiada
O primeiro encontro.
Umedece os lábios com a ponta da língua, e
Arfa-lhe os seios, e
Fogueiam-lhe as bochechas coradas,
Sente ferver-lhe a pele quente,
Aspira o ar perfumado,
Repleto de uma essência afrodisíaca.
Os lábios lúbricos
Entregam-se insaciáveis ao toque abrasador dos lábios dele.
Os olhos vívidos
Fecham-se caindo nas mãos da volúpia.
Amolecem os braços tombando no ar,
Sente o corpo dormente.
Ele segura-lhe a cintura delgada,
E ela, esmaecia de paixão,
Incandescida pelos beijos árdegos,
Os quais afloravam-lhe a pele,
E desabrochavam-lhe a tímida flor.





Paixão Cruel


Ouve-se esparsas, caminhos largos
Vozes ululantes, a atroar os horizontes
Resignados, cobertos de luz
Vastos nos lisos cabelos
Negros da noite.

Vê-se intactas, um ondear vigente
Aprumando constante, fulgente
Um crispar audacioso, ora funesto
Carregado no verde dos olhos
Profundos da esmeralda.

Sente-se o frio da neve, empedernido
Congelar o sangue nas veias, frígidas
E vê-se nas ilhas, remotas
Uma similitude cruel, langorosa
Salpicada no coração duro
Pedra de gelo.

E olho no rosto, álgido
Uma beleza ora sombria,
Ora jovial, a alucinar-me
E um rastro perdido nos lábios
De um sorriso simulado, torpe
Ironia atroz
A endoidecer-me.

Quisera fosse eu
Liberta de tua imagem fugaz
Que perturba meus órgão a reclamar
E o tolo coração que me assalta
Os lábios trêmulos,
E os olhos molhados
Que choram por ti
Paixão cruel. 





Você


Você é o meu mar,
Meu rio,
A correnteza que jorra vida, alegria, inspiração.
Você é a minha brisa,
Meu sereno,
Ar úmido q passeia pelo meu corpo
E me faz arrepios de amor.
Você é o meu trovão,
Meu raio,
Relâmpago que ascendeu uma lareira em meu coração.
Você é o meu vulcão,
Minha ebulição,
Lava que queimou a tristeza
E escorre cálida
Aquecendo minha alma.
E agora não há mais estradas
Caminhos que me levem de volta,
E te afastem de mim.


Indeléveis 



É difícil esconder o que realmente existe
Os olhos tentam flutuar por outros ventos
Os lábios sofreiam as palavras que querem saltar
Um sorriso é sarcástico
Pois vem para preencher o vazio
O vácuo da ignorância.
Não há repouso para as mãos
A agitação é a própria delatora
Mas não há o que se fazer
Tudo é em vão. 
O coração tenta percorrer outros trilhos
Respirar outros ares
Repousar nas margens de outros rios
E ver outras paisagens,
Mas não há sentido,
Os argumentos diluem-se por decreto
E é só feridas expostas,
A sangrar, a gotejar em profusão
Sem cessar a euforia,
Sem calar o que realmente grita
Respira, pulsa, arde ...
A fuga não encontra tréguas

O desgaste é mais denso
O erro não corrige o desastre
Talvez nem seja tão infortúnio assim,
Só um tanto dorido
Mas uma dor que caminha serena
Pelo vale dos amores divergentes   
Sem solidão, só cicatrizes ...
De nada vale ocultar
O orgulho é indeferido a paz
A verdade vem à tona
Logo sente-se, respira-se, vê-se
É inerente ao coração
E as mãos estão nuas
As cartas sobre a mesa
Nada na manga, apenas nos olhos
Que mentem o amor,
E se não o cansaço,
Mas não perene ...
Ainda há uma saída,
Restam esperanças, afrouxadas
Fagulhas de um desejo  
Que ardem inconsistentes
E é só por mais lenha na fogueira



Por Vanessa Olivier


Irrevogável Amor














Ela ia tranquila,
A mente já descansava de tormentos,
Os olhos queriam alcançar outras paisagens,
E o coração pulsava desarmado,
Descrente do amor, do calor, da dor,
A brincar desatento, despreocupado,
Livre e destemido.
Mas algo pairou em seu caminho,
Abriu valas, fendas, redemoinhos,
Chamuscou os passos precisos 
De um abundante néctar
A escorrer como lava
E cobrir o coração latente
Penetrar os poros dilatados
Entorpecer o espírito e a mente
Senão a alma
De um impensado afeto
Incomparável, irrevogável, inefável,

Amor ....  

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