Teia
Fé
Não há pra que correr
As distâncias se engolem
E não sobra a estrada
Nua a deslizar solitária
Como uma marcha fúnebre
Aos ouvidos de quem
Já não encontra a fé.
Vou assim meio lisa
O tempo me cerceando
Sem pressa no tom do meu pulsar
Agarro-me a uma ideia
Com o andar sóbrio
Uma estrada inteira
Porém, preenchida de lacunas
Assim como a minha fé.
Mentira
Finjo somente quando
Não há mais verdade a dizer
Uma gota que de teus olhos cai
Diluindo-se sem fim
Sou eu que não mais estou
Dentro de ti.
Peço o silêncio
Talvez um instante de amor
Algo a renascer
Mas as palavras não calam
És tu que agora finge
Misericórdia cruel.
Triângulo
Se a vida me mostra a face
Arregalo os olhos
Dou-lhe um beijo
Ora um tapa
que é pra me ferir
Quando a verdade vier
Não sem antes me acalentar
Pra me mostrar o bem e o mal
Num mesmo rosto.
Fuga
Uma pressa me atravessa a nuca
Estou a mil palmos de mim
Não sei onde vou chegar
Mas posso correr
E nunca me achar
É assim que sei viver.
O espelho é cruel
Fujo de meu reflexo
Não quero saber da face
De quem há tempos me habita
Mora em mim sem permissão
Como alguém com alma
Desejos, sonhos
E uma pitada de maldade.
Amor
Fui buscar ali, no meio da chuva
Um pouco da vida, um pouco de mim
E seus olhos se abriram
E as lágrimas misturaram-se à chuva
Nosso amor sorriu
Já não chovia mais.
Por Vanessa Olivier
Busca
Minha busca é perene
Nunca paro ao meio-dia
Arrasto-me como cobras
Numa floresta sibilosa
Voo como urubus revoltos
No céu de âmbar e carniça
Nado como tubarões ansiosos
Num oceano de meandros bêbados
Sou como o peixe espada
Pronto para alfinetar a presa
Sou uma coruja à meia lua
Olhos secos de repentes
Se alguém me machuca
Viro onça pintada
Meticulosa e fria
Mas se alguém me nina
Sou gatinha manhosa
Unhas seladas, língua precisa.
Por Vanessa Olivier
Destino
Não tem pressa o destino
Tateia as paredes insólidas
Veste uma ruga no olhar
Está à espera da hora
Deixa rastros na beira do caminho
Delicia-se com a teia nos passos
Emaranhados atalhos incertos
Que não levam a lugar algum
Mas deixam impressões no céu
Vagando os olhos que não visualizam
O dia depois do amanhã
Mas um dia chega
E satisfeito traveste o véu
Que apenas camuflava possibilidades
Agora silencia a voz da sofreguidão
E não há mais a ruga
Só olhos expectantes a assistir
De camarote o encontro
Destino que se cruza no mesmo olhar
Coração que vira um só
E um mar de infindas promessas
E novamente o véu a cobrir
Derradeiros caminhos ...
Veste uma ruga no olhar
Está à espera da hora
Deixa rastros na beira do caminho
Delicia-se com a teia nos passos
Emaranhados atalhos incertos
Que não levam a lugar algum
Mas deixam impressões no céu
Vagando os olhos que não visualizam
O dia depois do amanhã
Mas um dia chega
E satisfeito traveste o véu
Que apenas camuflava possibilidades
Agora silencia a voz da sofreguidão
E não há mais a ruga
Só olhos expectantes a assistir
De camarote o encontro
Destino que se cruza no mesmo olhar
Coração que vira um só
E um mar de infindas promessas
E novamente o véu a cobrir
Derradeiros caminhos ...
Por Vanessa Olivier
Instinto

Serpenteando nos cabelos do vento
Bailando nos ladrilhos do sol
Rutilando uma luz de lua
Branca e cristalina
A solfejar pura uma canção de ninar
Deitada por entre as nuvens
Braços de brisa
Tão fortes e resvalados
Tão neutros, submersos
A abraçar quente o corpo rijo
O mergulho é intrínseco
Ao mar de estrelas, piscando em dialetos
Todas férteis, línguas inusitadas
Mas de percepção similar
Um gozo abstrato de constelação
A tremer em azul neom o céu de anil
Mas uma lareira de tíbios raios
Relâmpagos náufragos em rios de lágrimas
Faz farejar uma busca de fuga
Do espaço ignoto
Crepitando algoz um medo desvairado
E acordando brusco entre banhos de suor e assombro
Era noite, era sonho ...
Por Vanessa Olivier
Abstrato
Solitária, sagaz corre
pelos campos
Mostra as garras e faz
rolar uma lágrima
Deita e canta uma
cantiga lúgubre
Abre os braços e sorri à
luz da lua.
Não tem pressa, livre
está
A perambular no vazio
das ruas.
Treme de frio e fala em
adeus
Com os olhos úmidos.
Sente o coração bater em
dissonância
Em discordância, na
ânsia de viver
De morrer, de gritar e
de dormir
Com os olhos abertos,
selados por dentro
Onde há uma chama,
Sem faísca, sem fumaça,
Ardendo na esperança de
ver outra vez
Aqueles olhos, ilusões
de um passado
A peregrinar pelo deserto
Prisioneiro do tempo,
com as celas fechadas
Sem grades e cadeados,
sentidos em guarda
Sob o alerta dos
guardiões, soldados do tempo.
A chuva cai e molha a
solidão
Levando a poeira da
saudade e
Deixando folhas secas no
peito.
Ela anda e não encontra
a paz
Fragmentos dissolvidos
pelo ar
Facínora, a sufocar a
garganta
A amedrontar os dedos
frios
A pulsar o coração
latente
A drenar a água que cai
Dos olhos baixos
Olhando a calçada
E os pontos negros do
universo
Refletidos no cristal de
suas retinas
Vermelhas, sangrando de
dor
Pelas partículas das
cinzas
Da vida que caiu e
morreu
E vive no abstrato
Refúgio de recordações.
Por Vanessa Olivier
Loucura
A pressa era mais branda
Cavalguei serões
Mas havia confusão
Imagens se entrelaçavam
Recuei
Fiquei emaranhada
Era lúdico, pitoresco
Gargalhei abobada
Sem fôlego, o ar na boca
Ouvi risos, que pareciam
choros
E uma chuva de raios
Vesti as luvas e sai
Em meio à tempestade de areia
Garimpando promessas
Ilusões
E uma pitada de loucura
Às avessas
Borbulhei...
Por Vanessa Olivier
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