Não há pra que correr
As distâncias se engolem
E não sobra a estrada
Nua a deslizar solitária
Como uma marcha fúnebre
Aos ouvidos de quem
Já não encontra a fé.
Vou assim meio lisa
O tempo me cerceando
Sem pressa no tom do meu pulsar
Agarro-me a uma idéia
Com o andar sóbrio
Uma estrada inteira
Porém, preenchida de lacunas
Assim como a minha fé.
Mentira
Finjo somente quando
Não há mais verdade a dizer
Uma gota que de teus olhos cai
Diluindo-se sem fim
Sou eu que não mais estou
Dentro de ti.
Peço o silêncio
Talvez um instante de amor
Algo a renascer
Mas as palavras não calam
És tu que agora finge
Misericórdia cruel.
Triângulo
Se a vida me mostra a face
Arregalo os olhos
Dou-lhe um beijo
Ora um tapa
Que é pra me ferir
Quando a verdade vier
Não sem antes me acalentar
Pra me mostrar o bem e o mal
Num mesmo rosto.
Fuga
Uma pressa me atravessa a nuca
Estou a mil palmos de mim
Não sei onde vou chegar
Mas posso correr
E nunca me achar
É assim que sei viver.
O espelho é cruel
Fujo de meu reflexo
Não quero saber da face
De quem há tempos me habita
Mora em mim sem permissão
Como alguém com alma
Desejos, sonhos
E uma pitada de maldade.
Amor
Fui buscar ali, no meio da chuva
Um pouco da vida, um pouco de mim
E seus olhos se abriram
E as lágrimas misturaram-se à chuva
Nosso amor sorriu
Já não chovia mais.
Por Vanessa Olivier
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